quinta-feira, 5 de março de 2009

Padrasto que estuprou e engravidou menina de 9 anos em Pernambuco é indiciado por estupro qualificado

Jailson José da Silva, padrasto da menina de 9 anos que foi submetida a aborto em Recife, foi indiciado pelo delegado Antônio Dutra por estupro qualificado. O desempregado violentou não só a menina, que estava grávida de gêmeos, mas também a irmã dela, de 14 anos.
A família morava na cidade de Alagoinha e ele está preso na cidade de Pesqueiro, no agreste pernambucano. A menina deve ter alta nesta quinta da maternidade Cisam, onde foi feito o aborto " Como cidadão eu fiquei revoltado com essa posição da Igreja. É uma coisa medieval "


- Ela está com bons sinais clínicos, conversando bastante e até brincando com alguns brinquedos que a mãe trouxe para cá. Apesar da pouca idade e do procedimento delicado ela se recupera bem - diz Cabral.

Apesar de proibido, a legislação brasileira permite que o aborto aconteça em duas ocasiões; em caso de estupro e quando a gestante corre o risco de morrer. No Rio Grande do Sul, uma menina de 11 anos está grávida de 7 meses e deve ter o bebê. Ela vivia com pais adotivos desde os seis meses de idade e foi vítima do padrasto. Ministro da Saúde critica decisão da igreja de excomungar mãe e médicos.


O aborto foi criticado pela Igreja Católica, que excomungou a mãe da criança e os médicos que realizaram o procedimento . Nesta quinta, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou que a decisão da Igreja Católica de excomungar os envolvidos foi "radical" e "inadequada". A excomunhão foi anunciada pelo arcebispo de Olinda e de Recife, dom José Cardoso Sobrinho.


Para Temporão, o ato de excomungar os envolvidos no aborto é um contra-senso diante do que aconteceu à criança, vítima de estupro pelo padrasto.
-É uma questão que está na lei, a menina foi violentada. Tá na lei e está resolvido, o resto é opinião da Igreja. Essa posição não tem respaldo algum. Eu fiquei impactado. Levar a gravidez adiante traria risco à vida dela - acrescentou o ministro.
- Nós, ministros da Igreja Católica, temos obrigação de proclamar as lei de Deus. Nesses casos, os fins não justificam os meios e a lei humana contraria a lei de Deus, que é contra a morte - justificou o arcebispo um dia antes, logo após saber que o aborto havia sido realizado.

Não é a primeira vez que o aborto gera polêmica entre o ministro da Saúde e a Igreja. Em maio de 2007, o Papa Bento XVI defendeu a excomunhão de políticos pró-aborto ainda no avião, a caminho do Brasil. Já no Brasil, o Papa disse em seu primeiro discurso no país que a vida deve ser preservada desde o momento de sua concepção até seu declínio natural.

O ministro Temporão alimentou a discussão dizendo que era preciso ouvir as mulheres sobre o assunto e que se os homens engravidassem pensariam diferente sobre o assunto. Ele afirmou que no Brasil o aborto é um problema de saúde pública.
Logo depois, o ministro se calou e encerrou a polêmica. O próprio ministro, na ocasião, explicou que o puxão de orelha para que não tocasse mais no assunto foi dado por sua mãe, dona Sara, e não pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Minha mãe, Dona Sara, de 89 anos e muito católica, me ligou e disse: "meu filho, o Papa está trazendo outros assuntos importantes para discutir no Brasil, como a fome e as questões sociais"", contou.


A Igreja Católica tinha expectativa de que a gravidez da criança fosse mantida. Nesta terça, o arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho tentou convencer os pais da menina a rever o aborto. O pai biológico dela, Erivaldo Francisco dos Santos, queria que as crianças nascessem. A mãe da menina, no entanto, estava irredutível e sequer quis conversar com o arcebispo.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que estava junto quando Temporão fez as declarações, também expressou sua opnião sobre o assunto. Para ele, condenar o aborto de uma menina que foi estuprada é uma coisa "medieval".
- Como cidadão eu fiquei revoltado com essa posição da Igreja. Exatamente nessa hora que as pessoas precisam de conforto a Igreja vem criminalizar a vítima. É uma coisa medieval - afirmou.

" Os fins não justificam os meios e a lei humana contraria a lei de Deus, que é contra a morte " Rilane Dueire, advogada da arquidiocese, afirmou que a menina queria os bebês e teria se prontificado a cuidar deles junto com a irmã mais velha, de 14 anos.

Antes de passar pela Maternidade Cisam, a menina esteve internada no Instituto Materno-Infantil Professor Fernando Figueira (Imip), também em Recife. O hospital informou que a menina deixou o local na última terça-feira sem fazer o aborto à revelia da instituição. A menina, que tem 1,33m e pesa 36 kg, mantinha uma gravidez de alto risco.

O aborto da menina recebeu apoio de organizações não-governamentais de defesa da mulher, como os grupos SOS Corpo e Curumim. Para a coordenadora do Grupo Curumim, Paula Viana, não havia mais tempo a esperar.
- Cada dia que passava, o risco era maior, a menina se sentia mal e já apresentava outras complicações. Tinha que ser feita uma intervenção médica imediata - afirmou.
Gravidez e abuso descobertos após dores.
A gravidez só foi descoberta depois que a criança se queixou de dores e foi levada pela mãe à Casa de Saúde São José, no último dia 25 de fevereiro.

De acordo com a polícia, a mãe não sabia dos abusos sofridos pela filha, que só teria contado sobre o caso depois da descoberta da gravidez por conta das dores. A menina contou à polícia que sofria violência sexual desde os 6 anos.

Jaílson José da Silva, o padrasto, confessou o abuso à polícia e contou que abusava sexualmente também da irmã da vítima, uma adolescente de 14 anos portadora de deficiência física. Ele foi preso um dia antes, quando se preparava para fugir para a Bahia.

O médico José Severiano Cavalcanti afirmou que a mãe da menina contou que ela tinha menstruado há apenas quatro meses e depois não mais.
- Desconfiei de gravidez, fiz os exames físicos e a ultra-som e confirmei a gravidez de gêmeos no quarto mês - afirmou.
A mãe dela, Esmeralda Aparecida, diz que nunca desconfiou de nada.
- Ele tratava ela sempre muito bem, eu não ia achar que era por mal - disse.

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