domingo, 13 de maio de 2012

Violência contra a mulher II

Hoje é o segundo domingo de maio, dia 13 de maio, dia em que se comemora o Dia da Abolição da Escravatura e, por ser segundo domingo, coincidentemente, também se comemora o dia das mães.



Como disse Martha Medeiros, no post abaixo, a mãe de hoje não é mesma mãe de outrora. A mãe de hoje vai a luta e muitas vezes sustenta a casa e educa a prole sozinha. A mãe contemporânea é multi uso, é livre.

Será??? Será que a tal Abolição chegou às mulheres contemporâneas????? Em que tipo de escravatura estamos inseridas no mundo moderno? Excesso de trabalho? Jornadas extras para sustentar a casa? Jornada dupla, casa x trabalho? Jornada tripla, casa x trabalho x marido? Qual o valor que os maridos dão ao trabalho doméstico? Qual o valor dado ao trabalho de ser mãe? É claro que existem homens que dão um tremendo valor as suas mulheres sejam elas suas mães, irmãs, esposas, filhas, cunhadas, amigas, noras, sogras, enfim, seja lá qual o tipo de relacionamento existente, alguns homens, infelizmente bem poucos, reconhecem o valor de uma mulher e não a escraviza. Mas, e os outros? Aqueles que são a grande maioria, que pensam ser donos de suas mulheres, que não aceitam dividir as tarefas domésticas nem tampouco a dura tarefa de educar um filho? Para as mulheres que vivem com estes homens a escravidão ainda é presente, persistente e onipotente dentro de seus lares. Lá, onde deveria ser um lar, na verdade, é a sua senzala, onde, também, está o tronco no qual ela apanha, leva açoites, é humilhada e maltratada dia após dia.


Enquanto levamos nossas vidas rotineiras a mídia permanece anunciando que a cada cinco minutos uma mulher  é agredida no Brasil.

Domingo passado, dia 6 de maio, o Fantástico, programa exibido pela Rede Globo de Televisão, esfregou na nossa cara um relatório recebido pelo Ministério da Justiça dizendo que 70% das mulheres são agredidas ou mortas por seus maridos, namorados ou por ex namorados e ex maridos. Alguns relatos foram tão dramáticos que em mim causou um misto de nojo e ódio desses homens que são algoses de suas mulheres.

Como pode um homem que diz amar ter a coragem de bater, chutar, dar pauladas, queimar, esfaquear, matar a pessoa que ama? Que tipo de amor é esse? Que tipo de ser é esse? Alguns homens se sentem donos e senhores de suas mulheres e esquecem que a mulher não é um objeto. Mulher é ser humano. Mulher é cidadã. Mulher é mãe. 

A mesma reportagem cita o Mapa da Violência de 2012, pesquisa coordenada pelo sociólogo Julio Jacob que mostra a diferença entre assassinatos masculinos e femininos. Segundo o sociólogo, os homens morrem primordialmente por violência entre os pares, na rua e a mulher morre em seu domicílio. A pesquisa continua dizendo que 68% das mulheres que procuraram o Sistema Único de Saúde em 2011 foram feridas dentro de casa e que em 60% dos casos de violência contra a mulher, quem mata ou espanca é o namorado, marido ou ex-marido.


Foram relatos super dramáticos. Algumas disseram ser espancadas grávidas, outras na frente dos filhos, outras foram arrastadas pelos cabelos, queimadas, tiveram ossos quebrados. Foram socorridas, denunciaram seus feitores e o que aconteceu?  Uma recebeu um documento da justiça determinando a distância que seu feitor deveria permanecer longe dela, como se um pedaço de papel fosse impedir um assassinato. Final da história? Ela foi morta por ele, é claro. "Quando foi assassinada, aos 47 anos, Anita Sampaio Leite trazia um papel que obrigava o marido a ficar pelo menos um quilômetro longe dela. “Andava com a medida protetiva dentro da bolsa, na esperança de que, quando o visse, entrasse em contato e fosse imediatamente para a detenção, para o presídio”, lembra Antônio Sampaio, irmão de Anita." (Fantástico, 06/05/2012). Agora, Anita faz parte da estatística. 

O marido de Anita já havia sido denunciado e preso em 2011 mas pagou fiança de R$ 183,00 e foi solto. Aí me pergunto: - É isso que vale a vida de uma mulher? Pelo que parece, aqui no Brasil é. Sim, é isso que vale a minha vida, a vida das nossas filhas, das nossas mães, das nossas irmãs, das nossas amigas. 

Na época da escravidão se pagava pela escrava agora se paga para se livrar da prisão e aprisionar a mulher, que continua escrava.

Outra foi posta, com os filhos, em um abrigo, com endereço secreto(que nem é tão secreto), vigiado pela polícia 24 horas por dia, ou seja, o marginal está solto e ela, a vítima, está presa junto com suas crias, ou seja, Quilombo mudou de nome, agora é Abrigo. País estranho esse em que vivo. Leis estranhas de proteção. Que porcaria de lei é esta que mantém a vítima presa em um abrigo do governo  e o seu potencial assassino solto por aí? 


Mas, para amenizar meu desespero, eis que surge no Piauí, uma Delegada de Polícia, a Drª Maria Vilma Alves da Silva, que leva seu trabalho a sério e que agita todo Judiciário  fazendo parceria entre a Policia Civil, Polícia Militar, o Poder Judiciário e o Ministério Público.


 Além de mandar prender, na hora, o agressor, ela sai da delegacia para dar palestras sobre violência doméstica, explica a Lei Maria da Penha, ou seja, faz o trabalho preventivo e não se importa em mandar prender político, executivo, homens de classe alta, média, ou baixa, para esta Delegada, não importa grau de instrução ou classe social. Pra ela, agrediu é preso. Simples assim. Se funciona no Piauí, por que não funciona no restante do Brasil? Perguntinha fácil de responder né? Por pura falta de vontade de quem deveria aplicar a Lei.

Enquanto não tivermos pessoas que levem seu trabalho a sério, enquanto não tivermos Políticas Públicas adequadas, enquanto não tivermos um Governo preocupado em solucionar o problema, enquanto não tivermos HOMENS, veremos nossas mulheres continuamente escravizadas, vilipendiadas, estupradas, agredidas e assassinadas. Assistiremos, de camarote, em nossas casas, de frente para nossas TVs de plasma, a carnificina e a coisificação que mantém escravas as nossas mães brasileiras. 

Então, neste sentido me questiono se hoje posso, realmente, comemorar o dia das Mães e o dia da Abolição da Escravatura. São tantas as mães que ainda vivem nas senzalas, açoitadas, estupradas e assassinadas por seus feitores que, neste dia, ao invés de comemorar, prefiro me recolher e pedir à Deus que as livre das mãos dos seus algozes, assim como me livrou do meu.

Feliz dia das Mães. Feliz dia da Abolição.



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