Dia 24 de outubro de 2009 por volta de 5h e 30 min recebi um telefonema avisando que meu pai havia surtado no hospital, que passara a noite toda muito agitado e com uma extensa equipe técnica a sua volta que fazia de tudo para que ele saísse do surto e retornasse a normalidade mas, que todo o esforço havia sido em vão. A pessoa do outro lado me dizia que, naquele momento, ele estava com uma máscara de oxigënio que lhe cobria todo o rosto.
Acordei meu filho e pedi que ele me levasse ao hospital pois meu pai estava morrendo. Os 15 minutos dentro do carro foram de total angústia poque eu achava que não daria tempo de ve-lo com vida. Liguei para minhas irmãs e avisei que papai estava morrendo e que estava a caminho do hospital.
Ao chegar no quarto dele me deparei com uma cena triste e contraditoriamente linda , que nunca sairá da minha mente. Meu pai estava muito agitado e não conseguia respirar, mesmo com toda medicação, oxigênio todo aberto, máscara que cobria-lhe todo o rosto....foi horrível ver isto. Ao seu lado, encontravam-se duas fisioterapeutas que, além de lhe assistirem profissionalmente, lhe faziam carinho e diziam doces palavras para ele. Os olhos das duas moças eram puro amor, carinho e compaixão. Elas tratavam do meu pai como se fosse o pai delas....
Meu pai, apesar de muito agitado me reconheceu. Dei-lhe um beijo na mão e ele me disse com a voz fraca e cansada. - Filha eu quero ar puro...Ele chorava e fazia um esforço sobre humano para respirar. Tentava tirar a máscara, se movimentava, olhava com olhos desesperados para mim...Seus olhos me pediam socorro. Ele estava aflito e sofria muito.
Permaneci ali, de pé ao lado dele, segurando sua mão esquerda e as duas fisioterapeutas ao seu lado direito. Reuni todas as minhas forças para não chorar e permiti que todo o amor que eu sentia por ele fosse visível em meus olhos e, olhando fixamente em seus olhos, comecei a conduzi-lo à uma viagem sem volta.....
- Pai, vamos viajar.....coloque sua farda de Comandante, entre no seu navio e vamos passear.....Estamos no Pojuca....navegando no Oceano Atlântico....veja pai, as ondas na proa do navio, sinta o vento batendo em seu rosto, perceba o cheiro do mar....está sentindo o cheiro do mar?
- Estou minha filha, estou sentindo o cheiro do mar.....que gostoso.
- Pai, agora vamos para o Itororó. ..Estamos atravessando o Pacífico....Vamos viajar pelo mundo, atravessar todos os mares, passear pelos lugares mais distantes....
- Vamos filha.....
E passeamos. Navegamos juntos por todos os mares e oceanos. Sentimos o cheiro do mar. As ondas batiam no nosso navio e nos faziam balançar suavemente....
Este pequeno diálogo o acalmou e as duas fisioterapeutas permitiram que as lágrimas lhes corressem pelos rostos. As moças me olharam, agradeceram por eu te-lo acalmado e saíram do quarto permitindo que nós ficássemos sózinhos. Pai e filha, em momentos de despedida da vida...
Ele me olhou de novo. Sabia que estava morrendo e me pediu para que eu fosse feliz. Neste momento eu falei com ele sobre Jesus e sobre a vida eterna. Perguntei se ele queria aceitar o meu Jesus e ele disse que sim então, tive o previlégio de poder orar com meu pai e ouvi-lo repetir a oração de entrega e dizer amém três vezes. Meu pai morreu salvo.
Quando minhas irmãs chegaram ele já estava mais calmo porém ainda sofria muito. Então, precisamos reunir forças e pedir às médicas que abreviassem seu tempo de sofrimento. Foi a decisão mais difícil de nossas vidas mas sabíamos que essa era a vontade dele e fizemos todas as vontades dele até o fim. Inclusive depois de sua morte.
Permanecemos ao seu lado. Eu, minhas irmães, dois de meus filhos, um cunhado que, na verdade, era o filho homem que meu pai não teve, minha tia e um amigo de infância do meu pai.
Passamos o dia todo o acariciando, dizendo o quanto lhe amávamos, segurando suas mãos mas, como pai amoroso e zeloso que era, esperou um momento em que nenhuma filha estivesse no quarto e morreu segurando a mão do filho homem que a vida lhe deu.
Um ano sem meu pai e minha vida mudou radicalmente.
Posso dizer que uma parte de mim foi cremada junto com ele e que minhas cinzas também estão no mar. A outra parte vaga e precisa encontrar forças para continuar viva e produzir então, lembro de suas palavras...- Filha, seja feliz. E, ao mesmo tempo, como mãe que sou, busco no amor que sinto por meus filhos o que necessito para continuar viva e conquistar o mundo para eles, da mesma forma que meu pai fez por mim.
Perdi meu porto seguro, minha nau, meu leme, meu pai....Perdi o homem que mais amei e que sempre terá o meu amor. Perdi a pessoa mais ética e honesta que conheci....Perdi meus domingos, meu companheiro de leitura, de vídeos, de música, de sonhos....Perdi meu PAI....
Minha vida está vazia, meus domingos são indesejáveis, mas, a fé, o bom humor, a alegria e a certeza de que tudo dará certo, se renovam constantemente quando lembro o pai que ele foi então, reflito na mãe que preciso ser.
Cada minuto que a depressão tenta me derrubar lembro dele e dos meus filhos e, desta forma, ressurge em mim, uma mulher de garra, disposição, alegria e determinação que nem eu mesma conhecia.
Estar sozinha em um país gelado, que eu nunca tinha ouvido a língua e precisando sobreviver, a cada dia, ao clima, a solidão, a saudade, a depressão, ao tedio, etc...Precisando resitir as mais variadas tentações e tendo que dizer inúmeros nãos para mim mesma, tem sido uma experiência que, penso eu, só meu pai, com tantos anos de viagens por todo o mundo, saberia compreender o vazio que as vezes sinto mas que logo se preenche com o amor que tenho por meus filhos.
Hoje entendo como meu pai sofreu por nós e como sua vida foi dedicada à nossa felicidade.
Não pretendo ser como meu pai foi mas seu exemplo de ser humano me torna a cada dia mais vencedora e com mais disposição de fazer a coisa certa. Quero trilhar o caminho da vitória com muita honrades e dignidade. Quero vencer e ser exemplo para meus filhos e netos. Quero que minha história seja escrita em linhas retas mas, com muita experiência e aventura. Quero desbravar o mundo e quero realizar o último pedido do meu pai.
- Filha, seja feliz........
Pai, a maior felicidade que eu tenho na vida é ser sua filha. Eu sou feliz.
Te amo meu pai........
Acordei meu filho e pedi que ele me levasse ao hospital pois meu pai estava morrendo. Os 15 minutos dentro do carro foram de total angústia poque eu achava que não daria tempo de ve-lo com vida. Liguei para minhas irmãs e avisei que papai estava morrendo e que estava a caminho do hospital.
Ao chegar no quarto dele me deparei com uma cena triste e contraditoriamente linda , que nunca sairá da minha mente. Meu pai estava muito agitado e não conseguia respirar, mesmo com toda medicação, oxigênio todo aberto, máscara que cobria-lhe todo o rosto....foi horrível ver isto. Ao seu lado, encontravam-se duas fisioterapeutas que, além de lhe assistirem profissionalmente, lhe faziam carinho e diziam doces palavras para ele. Os olhos das duas moças eram puro amor, carinho e compaixão. Elas tratavam do meu pai como se fosse o pai delas....
Meu pai, apesar de muito agitado me reconheceu. Dei-lhe um beijo na mão e ele me disse com a voz fraca e cansada. - Filha eu quero ar puro...Ele chorava e fazia um esforço sobre humano para respirar. Tentava tirar a máscara, se movimentava, olhava com olhos desesperados para mim...Seus olhos me pediam socorro. Ele estava aflito e sofria muito.
Permaneci ali, de pé ao lado dele, segurando sua mão esquerda e as duas fisioterapeutas ao seu lado direito. Reuni todas as minhas forças para não chorar e permiti que todo o amor que eu sentia por ele fosse visível em meus olhos e, olhando fixamente em seus olhos, comecei a conduzi-lo à uma viagem sem volta.....
- Pai, vamos viajar.....coloque sua farda de Comandante, entre no seu navio e vamos passear.....Estamos no Pojuca....navegando no Oceano Atlântico....veja pai, as ondas na proa do navio, sinta o vento batendo em seu rosto, perceba o cheiro do mar....está sentindo o cheiro do mar?
- Estou minha filha, estou sentindo o cheiro do mar.....que gostoso.
- Pai, agora vamos para o Itororó. ..Estamos atravessando o Pacífico....Vamos viajar pelo mundo, atravessar todos os mares, passear pelos lugares mais distantes....
- Vamos filha.....
E passeamos. Navegamos juntos por todos os mares e oceanos. Sentimos o cheiro do mar. As ondas batiam no nosso navio e nos faziam balançar suavemente....
Este pequeno diálogo o acalmou e as duas fisioterapeutas permitiram que as lágrimas lhes corressem pelos rostos. As moças me olharam, agradeceram por eu te-lo acalmado e saíram do quarto permitindo que nós ficássemos sózinhos. Pai e filha, em momentos de despedida da vida...
Ele me olhou de novo. Sabia que estava morrendo e me pediu para que eu fosse feliz. Neste momento eu falei com ele sobre Jesus e sobre a vida eterna. Perguntei se ele queria aceitar o meu Jesus e ele disse que sim então, tive o previlégio de poder orar com meu pai e ouvi-lo repetir a oração de entrega e dizer amém três vezes. Meu pai morreu salvo.
Quando minhas irmãs chegaram ele já estava mais calmo porém ainda sofria muito. Então, precisamos reunir forças e pedir às médicas que abreviassem seu tempo de sofrimento. Foi a decisão mais difícil de nossas vidas mas sabíamos que essa era a vontade dele e fizemos todas as vontades dele até o fim. Inclusive depois de sua morte.
Permanecemos ao seu lado. Eu, minhas irmães, dois de meus filhos, um cunhado que, na verdade, era o filho homem que meu pai não teve, minha tia e um amigo de infância do meu pai.
Passamos o dia todo o acariciando, dizendo o quanto lhe amávamos, segurando suas mãos mas, como pai amoroso e zeloso que era, esperou um momento em que nenhuma filha estivesse no quarto e morreu segurando a mão do filho homem que a vida lhe deu.
Um ano sem meu pai e minha vida mudou radicalmente.
Posso dizer que uma parte de mim foi cremada junto com ele e que minhas cinzas também estão no mar. A outra parte vaga e precisa encontrar forças para continuar viva e produzir então, lembro de suas palavras...- Filha, seja feliz. E, ao mesmo tempo, como mãe que sou, busco no amor que sinto por meus filhos o que necessito para continuar viva e conquistar o mundo para eles, da mesma forma que meu pai fez por mim.
Perdi meu porto seguro, minha nau, meu leme, meu pai....Perdi o homem que mais amei e que sempre terá o meu amor. Perdi a pessoa mais ética e honesta que conheci....Perdi meus domingos, meu companheiro de leitura, de vídeos, de música, de sonhos....Perdi meu PAI....
Minha vida está vazia, meus domingos são indesejáveis, mas, a fé, o bom humor, a alegria e a certeza de que tudo dará certo, se renovam constantemente quando lembro o pai que ele foi então, reflito na mãe que preciso ser.
Cada minuto que a depressão tenta me derrubar lembro dele e dos meus filhos e, desta forma, ressurge em mim, uma mulher de garra, disposição, alegria e determinação que nem eu mesma conhecia.
Estar sozinha em um país gelado, que eu nunca tinha ouvido a língua e precisando sobreviver, a cada dia, ao clima, a solidão, a saudade, a depressão, ao tedio, etc...Precisando resitir as mais variadas tentações e tendo que dizer inúmeros nãos para mim mesma, tem sido uma experiência que, penso eu, só meu pai, com tantos anos de viagens por todo o mundo, saberia compreender o vazio que as vezes sinto mas que logo se preenche com o amor que tenho por meus filhos.
Hoje entendo como meu pai sofreu por nós e como sua vida foi dedicada à nossa felicidade.
Não pretendo ser como meu pai foi mas seu exemplo de ser humano me torna a cada dia mais vencedora e com mais disposição de fazer a coisa certa. Quero trilhar o caminho da vitória com muita honrades e dignidade. Quero vencer e ser exemplo para meus filhos e netos. Quero que minha história seja escrita em linhas retas mas, com muita experiência e aventura. Quero desbravar o mundo e quero realizar o último pedido do meu pai.
- Filha, seja feliz........
Pai, a maior felicidade que eu tenho na vida é ser sua filha. Eu sou feliz.
Te amo meu pai........
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