terça-feira, 29 de julho de 2008

O movimento social Pré-vestibular comunitário e o PROCED

O acesso das classes menos favorecidas às universidades é um dos temas mais polêmicos da Educação na atualidade. Segundo Ronaldo Mota, Mestre em Física pela Universidade Federal de Santa Maria – RS, “entre todas as alternativas de facilitação do acesso dos mais pobres ao ensino superior, nenhuma delas é mais importante ou eficiente do que a melhoria significativa do ensino médio (assim como do fundamental e infantil)”. A mais imediata, segundo o professor, é a melhoria da formação dos professores do ensino básico: “nenhuma missão é mais desafiadora do que promover a valorização do trabalho docente qualificado. Nenhuma tarefa é mais premente e necessária”.

Como inserir os jovens oriundos de escolas sucateadas, e com um ensino médio que hoje ocupa um dos últimos lugares no aprendizado, em universidades públicas ou particulares de excelência? A falta de professores no ensino médio, principalmente de Matemática, Química e Física, fazem com que os já despreparados da educação infantil e do ensino fundamental sintam-se incapazes para tentar uma universidade.

As desigualdades sócio-econômicas são reflexos de duas equações. A primeira é a da herança social, e a segunda a das oportunidades sociais. Não se pode presumir que alguém vença uma corrida de cem metros livres usando um peso nos pés. O valor do peso aumenta de acordo com aquilo que se tem enquanto herança social. Alguém que é filho de pais com alguma instrução, com acesso à informação, à educação, possui mais chances de chegar à universidade ou conquistar um bom emprego, por mérito, do que quem tem que lutar contra a ausência de todos esses elementos.

Uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2003 mostra um panorama da educação superior no país, onde setenta por cento dos universitários fazem parte das classes mais ricas da população.
Esta elitização já pode ser vista no Ensino Médio, momento em que os alunos menos favorecidos deixam os estudos para trabalhar ou têm acesso apenas a um sistema educacional fragilizado e deficiente.

Esta disparidade no sistema de ensino brasileiro fez com que, há cerca de 20 anos, surgissem os primeiros cursinhos pré-vestibulares comunitários como uma iniciativa geradora de esperança para aqueles que desejam entrar em uma boa universidade, pois se constitui em um movimento de política de inclusão promovida pela sociedade civil agregadora de jovens pobres, negros ou brancos, que se preparam para entrar na vida acadêmica e no processo social.
Localizados em espaços cedidos por igrejas, escolas públicas ou outras associações, esses cursos contam com a ajuda de funcionários e professores voluntários e lidam o tempo todo com dificuldades e desafios.

Durante mais de uma década, essas iniciativas eram isoladas e esporádicas, não chegando, nem mesmo, a constituir um movimento social. No entanto, no final da década de 90 houve um boom de pré-vestibulares comunitários através do movimento negro – Pré-Vestibular para Negros e Carentes, liderado por Frei Raimundo David que, continuamente, busca autonomia e liberdade para o povo negro e pobre.

Frei David, em sua constante luta, logo tratou de difundir o movimento na Bahia e em São Paulo, onde plantou outra semente, agora a Educafro (Educação Para Afro-Descendentes e Carentes), que agrega, só na cidade do Rio de Janeiro, mais de 70 núcleos que possuem o mesmo ideal, ou seja, a inserção do povo pobre em universidades de qualidade.

A necessidade deste movimento social é justificada pela imensa lacuna histórica que dá uma cara elitizada à universidade no Brasil, em especial as públicas, distanciando, assim, o objetivo pelo qual as mesmas foram criadas – para que o povo despossuído de renda para custear os estudos em escolas particulares pudesse cursar o ensino superior com a qualidade necessária para a formação de profissionais de excelência.

O poder público pouco investe na educação de nível fundamental e médio, forçando, assim, um continuísmo cultural, ou seja, filhos de pedreiros e de empregadas domésticas não precisam sonhar mais alto.

A vontade de jovens das comunidades carentes em ingressar em uma universidade de qualidade para transformarem a realidade de suas vidas fez com que fosse criado um movimento que viabilizasse esta transformação, e o PROCED faz parte deste movimento.

Telma Lobato

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